Os caros amigos, meus contemporâneos, já portadores de
cabelos cinza ou prateados, mormente os homens devem se lembrar de uma máxima
corrente entre as queridas damas da noite, que tantas alegrias trouxeram às
nossas juventudes – e por que não também tanta sabedoria popular – lá pelos
idos dos anos setenta. Bem, diziam o seguinte, praticamente em uníssono: “Fazemos
tudo, menos beijo na boca! Beijo na boca a gente guarda pra quem a gente ama,
porque amor é coisa da alma. E a gente pode vender o corpo, mas a alma não se
vende de jeito nenhum.”
É claro que o tempo passou e as coisas mudaram muito, não
digo que pioraram ou que melhoraram, mas algo é certo: os valores já não são
mais os mesmos de outrora.
Hoje ainda existem as damas da noite, certamente. Se ainda
guardam os beijos apaixonados para seus amados, enquanto ganham o pão vendendo
seus corpos eu não sei, até porque já não tenho mais dezoito anos e não me
convém entregar-me mais aos abraços da boemia, onde ocorriam bate-papos com músicos
de boate, garçons de cabaré, amigos de copo e por que não prostitutas
sorridentes e quase sempre pacientes, para ouvir lamúrias e desabafos de alguns
amigos, entre um cliente e outro.
Mas tornando ao beijo e às mudanças, que porventura tenham
ocorrido ao longo dos anos, observando os acontecimentos em nosso redor – falo
de questões cotidianas e também políticas – notamos duas coisas interessantes: jovens
de hoje em dia não consideram o beijo como o presente anímico que deva ser
oferecido ao ente amado, como consideravam as nossas amigas "mariposas da paixão" de outrora. Então, entregam seus beijos a quaisquer pessoas, muitas vezes em
curtos espaços de tempo, em troca da sensação efêmera do prazer de cunho
unicamente sexual. Não critico nem aplaudo, cada geração com seus valores, hedônicos
ou não; porém o mais interessante e o que parece não ter mudado é que as
prostitutas não beijavam seus clientes na boca, porque tinham um princípio:
vendiam seus corpos, mas nunca sua alma. Já os políticos, tanto os daquela
época, como os de agora permanecem sem o menor escrúpulo na venda de suas
almas.
Pode até ser que não se beijem na boca (pelo menos não em
público), mas suas almas são negociadas diariamente e alguns nem sentem
vergonha em mostrar os resultados da negociação, na maior cara-de-pau.
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