Estamos invariavelmente condenados a viver no passado e para
o passado.
Tudo o que falamos, o que contamos, o que expressamos diz
respeito a coisas já ocorridas ou que serão ocorridas quando aconteceram e que
não existem ainda.
Em verdade, para ser mais preciso, como o passado também não
existe mais, resume-se a lembranças, assim somos apenas nossas lembranças.
Mesmo quando planejamos algo para realizar no futuro, não
sabemos exatamente como ocorrerá, sequer sabemos, em verdade, se ocorrerá,
posto que ainda não existe.
Os próprios planos, assim que os comunicamos em qualquer
forma de linguagem, são conteúdos formados em nossas mentes no passado. E as
realizações futuras somente estarão ocorrendo quando pudermos vivê-las. E cada
nano-instante vivido, assim que for vivido também fará parte do passado, que já
não existirá, a não ser na memória do experimentador.
Concluímos que o futuro só existirá, quando puder ser
lembrado e aí deixará de ser futuro e será passado, que também não existe e
apenas persistirá junto a um conjunto de outras lembranças.
Logo, quando planejamos algo para o futuro, estamos
planejando tão somente as memórias que pretendemos carregar em nossas mentes,
enquanto estivermos biologicamente vivos e mentalmente sãos (não pretendo
questionar ou discutir, aqui, alternativas de ordens religiosa ou metafísica).
Talvez até seja esse o viés filosófico da Bíblia, no
episódio sobre o sermão da montanha, que diz algo mais ou menos assim: “...Não vos preocupeis, pois, com o dia
de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta
o seu cuidado.”
As
lembranças poderão, inclusive, definir a própria condição mental, estrutural do
indivíduo no futuro que ainda não existe. Lembranças pesadas podem levar a condições
de desvios psicológicos, traumas e coisas assim. Lembranças leves, prazerosas,
levam a condições de construção de novas lembranças positivas.
É...isso
tudo é bem interessante. Vale a pena conversar e discutir sobre essas questões
e quem sabe, estruturar um tratado, um belo trabalho, que ficará nas memórias
dos participantes de tal construção e fará parte do presente de um futuro, que
ainda não existe, para que possa ser lido e participar das memórias de gerações
que ainda vierem.
E assim
segue o ser humano, agradavelmente preso às cadenas do passado.
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